Um dia, algures em 2022, Ana Bacalhau ligou à A Garota Não a dizer que gostava que lhe fizesse uma canção, e que essa canção contasse uma história.
Elas nunca tínhamos falado mas Ana Bacalhau é-lhe familiar, não pela linha de sangue mas pelo canal do ouvido.
A Garota Não ficou feliz com o telefonema e não teve de pensar muito. Conta que “o texto foi nascendo de um lugar comum de desafio, de força e combate – foi nascendo a partir do nosso país, da história de quem cá passou, de quem cerrou os dentes e deu o seu melhor – e felizmente foram muitos a dar o seu melhor: homens e mulheres sem medo que a igualdade de condições, prazeres e direitos desvirtuasse a pátria… e a família.”
Ana Bacalhau não cabe em si de contente com o resultado e é grata por A Garota Não lhe ter dado aquilo que quer dizer desde que se tornou mulher. E diz que é uma coisa muito profunda e emocional para ela poder cantar estas palavras, que são dela e de tantas e tantos de nós, também.
Quando recebeu a canção, desde a primeira hora em que a ouviu, percebeu que era sua e que havia esperado uma vida para a cantar.
Produzida por João Só, “Por Nos Darem Tanto” “reflete sobre as dificuldades das mulheres, consideradas propriedade de seus pais e maridos durante a ditadura. A canção agradece às mulheres que proporcionaram uma vida melhor às novas gerações.”
“Por Nos darem Tanto”, tem uma fantástica capa de João Pombeiro, que é uma espécie de mural onde cabem várias gerações de mulheres, mas também frases e leis do antes e do pós-25 de Abril.
João Pedro Bandeira