Uma vaga de atos de vandalismo tem afetado as linhas férreas da região de Düsseldorf, na Alemanha, conseguindo perturbar a circulação ferroviária nas principais ligações de passageiros e de carga.
Os serviços secretos alemães estão a investigar e acreditam no envolvimento de operacionais, russos ou ao serviço de Moscovo.
O país está em estado de alerta.
Degradação das vias e de cabos, atos de vandalismo e de sabotagem, são algumas das ocorrências que se multiplicam desde julho, com impacto diverso na circulação de comboios alemães.
Enquanto alguns problemas poderiam ser atribuídos à idade das composições e das infraestruturas, a par da falta de manutenção e de pessoal, outros foram sem dúvida provocados por mão humana.
Foi o caso dos três incêndios ocorridos no início de agosto, em dois dias consecutivos, na linha Düsseldorf-Duisburg, uma das mais utilizadas do país, com uma média de 700 a 800 ligações diárias.
Um dos incêndios foi reivindicado pelo grupo de extrema-esquerda Komando Angry Birds, conhecido pelas autoridades pela sua luta contra “o sistema industrial” e que costuma operar na área de Düsseldorf.
Mas as investigações procuram outras pistas. Os problemas voltaram a surgir nos últimos dois dias.
Na madrugada de segunda-feira, a sabotagem de linhas férreas causou perturbações ao longo de mais de 12 horas nas ligações entre Colónia e Düsseldorf.
Os problemas prosseguiram noutros locais e até terça-feira. “Segunda-feira, desconhecidos estragaram cabos na via férrea entre Herzogenrath e Kohlscheid. Às primeiras horas desta terça-feira, um ato de vandalismo sobre cabos ocorreu igualmente nos arredores de Heinsberg, numa via férrea”, indicou um comunicado policial.
A empresa responsável pelos caminhos de ferro da Alemanha, a Deutsche Bahn (DB), recusa para já pronunciar-se sobre as motivações e autores dos atos criminosos. Promete ainda assim, reforçar a segurança e a vigilância. Um porta-voz da empresa afirmou que já foram destacados 4.500 agentes de segurança e 6.000 polícias para patrulhar cerca de 34.000 quilómetros de vias férreas.
“Daqui até ao fim de 2025, a DB terá contratado 280 colaboradores suplementares”, referiu a empresa em comunicado, “para assegurar a proteção das linhas, das instalações e dos edifícios”.
A Alemanha está em estado de alerta perante a vaga de atos de vandalismo.
Os comboios alemães já foram visados em 2022, quando ocorreram incidentes envolvendo cortes de cabos de comunicação em Berlim e Herne, na Renânia do Norte-Vestfália, e em 2023, quando ocorreram alegados ataques incendiários em condutas de cabos ferroviários, perto de Hamburgo.
A investigação dos casos mais recentes foi entregue ao departamento da Segurança do Estado, a Staatsschutz, que geralmente se debruça sobre crimes e delitos políticos.
Campanha russa
O processo de análise está ainda no início mas, como suspeitos do costume, surgem grupúsculos ligados à extrema esquerda alemã e a Rússia.
A hipótese que gera mais consenso é a de que os ataques se integrem numa campanha russa para instaurar o caos em toda a Europa, eventualmente com o envolvimento de grupos criminosos que permitam a Moscovo defender-se com uma negação plausível.
O objetivo seria perturbar a população civil, incutindo pânico, mais do que atingir alvos militares e linhas de abastecimento. Na semana passada, os serviços de informação alemães estimaram que as sabotagens e os ataques cibernéticos dos últimos meses custaram à economia alemã cerca de 289 mil milhões de euros, e que “as pistas apontam cada vez mais para a Rússia e a China”.
Outros países europeus estão também a ser vítimas de sabotagens ou de ataques misteriosos.
A Dinamarca denunciou na terça-feira um “grave ataque” às infraestruturas do país, depois de drones de origem desconhecida terem sobrevoado o Aeroporto de Copenhaga no dia anterior.
No passado fim de semana, vários aeroportos europeus foram afetados por um ciberataque ao software de check-in de passageiros fornecido por uma empresa.
Graça Andrade Ramos – RTP