Dar voz às 50 mil mulheres lusófonas, que vivem ou trabalham no Luxemburgo, é o objetivo da nova associação criada por uma emigrante portuguesa. Madalena Queirós é a presidente da “LuxSófonas”, reconhecida o mês passado como Organização sem fins lucrativos pelo Estado luxemburguês. “Esta associação nasceu de uma conversa entre mim, uma brasileira, uma cabo-verdiana e uma originária da Guiné-Bissau. Nós estávamos uma vez num churrasco, num dia luminoso aqui no Luxemburgo que é uma coisa rara, e nessa conversa percebemos que tínhamos muito mais em comum do que falarmos português. As mulheres que falam português no Luxemburgo são já cerca de 50 mil, mas são mulheres que não têm voz nem no plano político, económico, social e cultural“, disse à RDP Internacional.
“No primeiro estudo sobre o racismo aqui no Luxemburgo verificámos que um em cada 3 lusófonos se sente descriminado quer no emprego, quer na escola, quer no acesso à habitação. Foi ao constatarmos também estes números que decidimos que era importante fazer alguma coisa para combater estas formas de descriminação e para dar voz às mulheres lusófonas.”
Recém-criada, a Associação LuxSófonas tem já financiamento garantido para duas ações. “Vamos fazer um projeto de mentoring em que cerca de 20 mulheres com mais experiência na carreira profissional também lusófonas vão dar apoio a 20 mulheres mais jovens, para as ajudar a concretizar o seu sonho profissional, pessoal e muitas vezes ajudá-las na integração, que às vezes aqui é um bocadinho difícil. E temos também outro projeto que é arte pela integração, financiado pelo Ministério da Cultura.”
Lutar contra a discriminação policial é também um dos objetivos da Associação. “Porque aqui de facto também há essa discriminação quer em relação aos imigrantes quer em relação às mulheres, por parte da polícia. Eu mesma já fui vítima com algumas amigas lusófonas dessa discriminação por parte da polícia. Outro dos projetos que temos é criar uma secção especial da polícia dirigida às mulheres porque muitas vezes aqui as mulheres são vítimas de violência doméstica – estudos mostram que uma em cada 10 mulheres aqui no Luxemburgo já tiveram uma tentativa de violação ou foram violadas e portanto é uma área que também tem que ser muito trabalhada que é a questão das vítimas da violência de género e de violência sexual e violência doméstica – e portanto, porque achamos que os homens polícias muitas vezes não têm sensibilidade para responder às questões levantadas por estas vítimas, queremos criar também uma secção especial da polícia luxemburguesa para atender essas mulheres.”
É a ambição de Madalena Queirós, jornalista, chefe de redação do jornal Contacto no Luxemburgo, agora presidente da nova associação “Lux-sófonas”, uma organização de defesa dos direitos das mulheres lusófonas no Luxemburgo.